Editorial
Confira a nossa crônica deste domingo (20)
FOTO: Divulgação
O jornalista uruguaio Eduardo Galeano propôs uma definição bastante pertinente e otimista sobre a utopia: serve, disse o também autor de mais de quarenta livros, “para que eu não deixe de caminhar”, mesmo com a certeza de que nunca a atingirá. “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei”.
Galeano está certo. A utopia, palavra constantemente usada como algo banal ou pejorativa, é uma razão para viver, um norte para se tornar um ser humano melhor. Não é um mero termo, dentro do universo imaginário, a profundidade da palavra utopia é plural. Para o uruguaio, a qual compactuo como uma das mais interessantes, é interiorizar a concepção de utopia como uma bússola – a utopia que permite-nos identificar o objetivo a alcançar.
Tem a ver com esperança de que dias melhores virão. É o combustível para reagir e buscar a mudança, de dentro para fora, e então seguir em frente. Isso pode soar como um ideal de um desiludido que tenta convencer o mundo e a si mesmo de que as coisas (de um micro ou macro universo) serão melhores um dia. É, no entanto, a certeza de que a mudança nunca virá de fora para dentro: a sociedade não muda se cada pessoa permanecer girando apenas nas suas convicções, arrogâncias e desdéns.
A utopia, a crítica que ferve dentro do corpo e da mente, mostra que o sistema social atual está arruinado, um abismo sem fim entre quem ri ao oprimir e quem chora oprimido. Só estende a mão e só limpa as lágrimas do rosto quem concebe o próprio sistema utópico de dignidade e harmonia.
Certamente a nossa Santa Irmã Dulce dos Pobres, cuja canonização será comemorada neste domingo (20) na Arena da Fonte Nova, também tinha a utopia como norte, na posição mais humanista possível do termo. Sua razão utópica era construir a esperança dentro da sociedade e dotar o indivíduo de esperança para viver com mais dignidade e confiança. Dulce, sem dúvida, viveu pela ideia de uma sociedade melhor possível.
Perde-se na ignorância pragmática e no vazio da vida aquele que vê a utopia dentro de um universo imaginário, literário ou mero passatempo romântico.
Comentários
Relacionadas
Veja Também
Fique Informado!!
Deixe seu email para receber as últimas notícia do dia!